Dono de uma técnica apurada e repleta de versatilidade, o instrumentista, arranjador e produtor Arthur Maia trafegava com excelência por gêneros como a MPB, samba, reggae, funk, o pop, o jazz e a black music. Baixista da banda de Gilberto Gil por mais de duas décadas, em suas mãos o baixo passou a ser usado como instrumento não apenas de acompanhamento, mas também de belíssimos solos. Maia iniciou também uma nova reaplicação do baixo fretless, sem trastes, que o tornou frequentemente solicitado por artistas brasileiros e estrangeiros. Entre 2013 e 2016, ainda atuou como secretário de cultura de Niterói.

Arthur Maia nasceu no Rio de Janeiro em 9 de abril de 1962 numa família de músicos. Seu avô J. Cascata era percussionista e compositor de sambas e seu tio, Luizão Maia, um mestre do baixo elétrico, que gravou centenas de álbuns de grandes nomes da MPB.

Aos quatro anos o garoto Arthur já batucava nas panelas da casa, acompanhando as músicas que ouvia no rádio. Aos cinco, ganhou sua primeira bateria e começou a ter aulas do instrumento. Quando sua família mudou-se para Niterói no início dos anos 1970, já tocava bateria em bailes e festas no eixo Rio/Niterói. Mais tarde, aos 15 anos, ganhou um baixo do tio Luizão, com quem aprendeu as primeiras técnicas do instrumento e de quem herdou a peculiar sensibilidade que desenvolveu neste instrumento.

Extremamente dedicado aos estudos desde então, Arthur, sob influência de Jaco Pastorius, que viu tocando com o Weather Report no Rio, em 1980, logo passou a se destacar na cena musical carioca e fluminense com seu baixo Fender Precision Fretless, sua marca no início de carreira. Arthur participou de diversas bandas de nome e renome, como Pulsar, Banda Black Rio, Egotrip e o grupo instrumental Cama de Gato, junto a Mauro Senise, Pascoal Meirelles, Romero Lubambo e Nilson Matta.

Além de Gil, em seu vasto currículo, acompanhou artistas ao vivo como Ivan Lins, Luiz Melodia, Márcio Montarroyos, Lulu Santos, Jorge Benjor, Gal Costa, Djavan e Ney Matogrosso, além de gravar com Ana Carolina, Caetano Veloso, George Benson, Juarez Moreira, Marisa Monte, Fernanda Fróes, Mart'nália, Roberto Carlos, Seu Jorge, Dominguinhos, Toninho Horta e outros grandes nomes da música brasileira e internacional. Participou também dos principais festivais internacionais tais como o New York Jazz Festival, o Festival de Jazz de Paris, o Montreux Jazz Festival, o Lugano Jazz, o Free Jazz Festival e o Heineken Concerts (Brasil), entre vários outros.

Primeiros passos como profissional

Convidado em 1980 pelo baterista Pascoal Meirelles, Arthur passou a integrar o quarteto instrumental 'Cama de Gato'. Logo passou a se destacar como músico de estúdio, gravando com Ivan Lins o álbum "Depois dos Temporais" (1983). O álbum de estreia do 'Cama de Gato' (Som da Gente/1986) apresenta uma de suas grandes composições, "Funchal", onde Arthur mostrou todos os seus recursos e domínio no fretless. Paralelamente, ainda nos anos 80, Arthur excursionou com Lulu Santos, Djavan, com o trompetista Márcio Montarroyos e ainda fez parte do grupo pop Egotrip.

Ainda em 1986, gravou com o pianista Gilson Peranzzetta, o álbum 'Tom & Villa', uma homenagem a dois dos mais importantes compositores da música brasileira no século XX, Tom Jobim e Heitor Villa-Lobos. No LP, exclusivo para os amigos e clientes da Coca-Cola, o duo foi acompanhado por Zé Nogueira (sax soprano) e Armando Marçal (percussão).

Em 1991, gravou seu primeiro álbum solo 'Maia' pela gravadora Som da Gente ganhando um Prêmio Sharp. No mesmo ano, com o 'Cama de Gato', lançou "Sambaíba". Ainda no início dos anos 90 passou a integrar a banda de Gilberto Gil com quem realizou turnês por mais de duas décadas participando dos CDs/DVDs 'Acústico MTV' e do 'Quanta Gente Veio Ver ao vivo', cuja música de abertura, 'Palco', tem um antológico solo de baixo de Arthur em sua introdução.

Em 1995, Arthur deixou o Cama de Gato após gravar os álbuns 'Amendoim Torrado' (1993) e 'Dança da Lua' (1995). Seu segundo CD, o 'Sonora', foi lançado em show no Canecão, em 1996, com lotação esgotada e consagração da crítica, que possibilitou a gravação do especial 'Na Corte do Rei Arthur', para o SBTVE e, a seguir, a apresentação do músico em seis países europeus, nos Estados Unidos e no Japão. Em setembro do mesmo ano, se apresentou na casa de espetáculos Town Hall, de New York, no Festival Brasil/New York.

Em 1999, foi convidado por Ney Matogrosso para realizar a turnê de seu CD 'Olhos de Farol', registrando o DVD 'Vivo'.

2000 marcou o lançamento, pela Niterói Discos, do CD 'Black Fusion Band ao vivo' ao lado do guitarrista americano Hiram Bullock. Gravado na casa de shows carioca Mistura Fina, no início de 1998, este disco reúne o melhor de Arthur acompanhado de um japonês criado nos EUA, Hiram Bullock, músico que começou no sax, mas já tocou com uma lista do jazz e do pop, incluindo Miles Davis, James Brown, Barbra Streisand, Burt Bacharach, Billy Joel, David Sanborn, Paul Simon e Eric Clapton.

Também pelo selo institucional da Prefeitura de Niterói, em 2002 lançou seu terceiro álbum solo, 'Planeta Música' que contou com participações especiais de Paquito D'Rivera, Mike Stern e Marcos Suzano. Em dezembro deste mesmo ano, realizou o show "Arthur Maia Convida", na Marina da Glória, no Rio, com a presença de mais de 2.500 ouvintes.

Em virtude de uma entrevista concedida ao Programa do Jô em 2002, naquele ano, a agenda do artista foi especialmente cheia, atendendo a convites para participar de shows e workshops no Brasil e no exterior. Foi quando Arthur recebeu o convite para dirigir o Grammy Latino e o musical "Canto das Três Raças", e para se apresentar no "Utópica Marcenaria" e nos SESC's de São Carlos e São José do Rio Preto.

Em 2010 lançou o quarto álbum solo, 'O Tempo e a Música' (ND). "Esse é o mais brasileiro dos meus discos. Para chegar a esse conceito fui, em parte, influenciado por minhas apresentações anteriores no rodas de Choro, onde gêneros brasileiríssimos sempre estão presentes no cardápio", sentenciou Arthur.





Desde 2004, quando idealizou e realizou o primeiro festival instrumental 'Niterói Musifest', que apresentava shows e oficinas com grandes instrumentistas, Arthur passou a ter uma atuação ainda mais marcante na cultura da cidade fluminense. Por isso, em 2013, convidado pelo prefeito Rodrigo Neves, assumiu o cargo de Secretário de Cultura da cidade, cargo que exerceu até 2016. Na SMC, inaugurou o Museu Janete Costa de Arte Popular e criou o projeto Semente, que levava eventos culturais e workshps às comunidades mais carentes da cidade.

Em 2015, Arthur se juntou ao grupo 'El General Paz & La Triple Frontera (GP3F)', banda de fusão multicultural integrada por músicos de vários países.

Arthur Maia faleceu em 15 de dezembro de 2018, em Niterói, aos 56 anos, vítima de uma fulminante parada cardíaca.

Arthur trabalhou até o fim de sua vida. Tanto é verdade que em 2019 foi lançado sua última produção, em parceria com o exímio guitarrista Celso Fonseca: o CD 'Martn'ália canta Vinicius de Moraes'. No mesmo ano, o selo Biscoito Fino lançou o DVD 'Arthur Maia Ao Vivo', gravado em 2015, em Niterói.





Crítica

"Arthur Maia foi um dos maiores baixistas do planeta e um exemplo para todo músico que não tem medo de expandir seus horizontes musicais. Sempre mandando grooves matadores, Arthur era capaz de tocar qualquer gênero e estilo e deixar todo mundo de boca aberta". (Regis Tadeu, crítico musical, em 2018)

“[...] No último verão, eu estava caminhando pelas areias maravilhosas do lago Maggiore, próximo a Lugano na Suíça, quando encontrei com Paquito D´Rivera,... que lá também estava para se apresentar com seu grupo no Jazz Festival. Ele me perguntou se Arthur Maia era a mesma pessoa que tocou com Djavan. Sim, eu disse. Esse cara é um dos melhores do mundo! ... Caros ouvintes, este disco é o primeiro CD lançado por um dos principais contrabaixistas de sua geração no mundo, o carioca Arturzinho Maia. Esta é uma gravação que traz raros fragmentos de uma música que, com inteligência e fluidez, reproduz o que tem de melhor". (Gilberto Gil, em 1996)


Discografia

1986 - "Tom & Villa" (com Gilson Peranzzetta) [Pan Produções]
1990 - "Maia" [Som da Gente]
1996 - "Arthur Maia" (também conhecido como "Sonora") [Paradoxx Music]
2000 - "Black Fusion Band ao vivo" (com Hiram Bullock) [Niterói Discos]
2002 - "Planeta Música" [Niterói Discos]
2010 - "O Tempo e a Música" [Niterói Discos]

Com a banda Cama de Gato

1986 - Cama de Gato [Gravadora: Som da Gente]
1988 - Guerra fria [Gravadora: Som da Gente]
1990 - Sambaíba [Gravadora: Som da Gente]
1993 - Dança da lua [Gravadora: Som da Gente]
1995 - Amendoim torrado [Gravadora: Albatroz]

Com a banda Egotrip

1987 - Egotrip








Publicado em 20/12/2022

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