Comemorando um ano de existência, o Mac Niterói convida para a exposição 'Visões e (sub)versões - Cada olhar uma história', que tem Curadoria Educativa de Luiz Guilherme Vergara e equipe DAE, Divisão de Arte Educação do Museu. As visitações estão abertas de 20 de setembro de 1997 a 25 de janeiro de 1998.

A partir da exposição inaugural do MAC, Arte contemporânea na Coleção João Sattamini (02/09/1996 a 14/09/1997), percebeu-se uma outra coleção se formando, a das histórias e leituras dos múltiplos olhares dos visitantes do MAC. Durante um ano de exposição foram coletadas as mais diversas respostas poéticas dos visitantes através da estratégia interpretativa “Cada olhar uma história”. Cada indivíduo com seu olhar, sua vivência e bagagem cultural pode contar uma diferente história a partir de uma obra de arte, a qual está sempre aberta a novas leituras. O interesse com esta proposta foi o de incentivar uma atitude criativa por parte do espectador e, ao mesmo tempo, enfatizar o compromisso do museu com a dimensão aberta da obra de arte.

Foram redefinidos tanto o papel do espectador na revelação dos valores e significados da arte contemporânea quanto o do museu como território de leituras compartilhadas. As histórias e leituras paralelas reunidas com esta estratégia interpretativa formaram uma revisão, ou (sub)versão, dessa exposição inaugural do MAC. As respostas poéticas foram tão surpreendentes que inspiraram uma inusitada curadoria proposta por Luiz Guilherme Vergara (então diretor da Divisão de Arte Educação).

Obras escolhidas pelo olhar imaginativo de quatro jovens visitantes formaram a exposição Visões e (sub)versões - Cada olhar uma história, escolhida para celebrar o primeiro ano de aniversário do MAC. A exposição foi dividida em quatro segmentos reunindo as histórias e suas respectivas obras. “A passagem dos séculos” reuniu os artistas Chico Cunha, Joaquim Tenreiro, Carlos Zílio, Leonilson e Sante Scaldaferri.

A história “Conte, Porane, Idéia” reuniu as obras de Ivan Serpa, Cláudio Paiva, Ivens Machado e Mira Schendel; em “Como cada um chegou a sua obra-prima”, os artistas Hermelindo Fiaminghi, Hélio Oiticica, Antonio Dias e Ubi Bava; em “Humanidade Burra”, estavam as obras de Cláudio Fonseca, Leda Catunda, Frans Krajcberg e Rodrigo Andrade.

Duas importantes conquistas se deram: a participação criativa dos visitantes que interferiam diretamente na produção de uma exposição; e o afeto e a imaginação como princípios para uma curadoria participativa, inusitada e essencial para a história da desalienação dos museus de arte.


Leonilson [1957-1993]. O inflexível permanece pato jamais vira cisne, 1983
Coleção João Sattamini/MAC de Niterói



Cada olhar uma história, por Luiz Guilherme Vergara

Essa seleção de Visões e (Sub)Versões aponta para a comunicação interativa entre a obra de arte e o espectador/participante, cúmplice da criação. Dessa forma o poder da imaginação, responsável pelo processo criativo e artístico, mobiliza também o espectador como agente multiplicador de versões. A obra de arte é sem dúvida um objeto intencional inaugurador de reflexões que partem do individuo para o coletivo e, reciprocamente, como um espelho, do coletivo interiorizado no individuo.

A questão que se reconhece é que esse objeto artístico não é um espelho gratuito, mas sim um provocador reflexivo onde cada visão é também uma nova versão de imagens e conteúdos. Assim como o artista possui a excelência do olhar imaginante que se apropria das coisas ou dos acontecimentos do mund na produção de sua obra, essa mesma obra artística, agindo como espelho crítico e poético do nosso tempo, deve potencializar o olhar imaginante do espectador para que, com as suas visões e (sub)versões, se torne cúmplice da criação.





Visões e (Sub)Versões: Cada Olhar uma História

por Luis Camillo Osorio, Ex-diretor da Divisão de Arte Educação

    Algumas exposições se transformam em marcos históricos. As razões disso são variadas. Aqui no Brasil tivemos algumas – Opinião 65 e Como vai você, geração 80, para citar apenas duas – cujas ressonâncias extrapolaram o elemento puramente artístico e se tornaram acontecimentos culturais. Visões e (sub)versões, realizada no MAC em 1997, apesar da sua pouca reverberação, deve ser vista como um marco quanto às novas possibilidades de se pensar a relação entre curadoria, educação e museu. Talvez o fato de ser esta uma discussão incipiente entre nós, e que vem ganhando relevância desde então, seja uma das razões para a exposição ter passado em brancas nuvens.

    Lembro-me da origem de tudo: o trabalho educativo proposto pelo Guilherme Vergara, então diretor de Educação do museu, às milhares de crianças, adultos e escolas que visitavam o MAC no seu primeiro ano de existência. Depois de conhecer a coleção exposta, os visitantes eram convidados a fazer um recorte de quatro ou cinco trabalhos e articulá-los com uma história. Valia tudo, o importante era traçar algum laço afetivo, imaginativo, criativo que unisse os trabalhos – o que, naturalmente, aproximava-os das obras. Era um primeiro contato com a arte, e esta deveria ser trazida para o universo de interesses e visões de mundo de cada um. A história da arte, as relações poéticas, as influências e filiações estéticas eram subvertidas em nome de um contato criativo cujo interesse era o de traduzir sentimentos em palavras na busca de um compartilhamento possível de mundo(s).

    A arte contemporânea ganhava ali uma vitalidade incomum. Milhares de histórias, das mais banais às mais delirantes, davam-lhe sentidos inimagináveis. O dado afetivo de cada um conduzia o fio que juntava as obras, criando narrativas singulares e juntando obras que jamais conviveriam em uma exposição tradicional. O que caracterizou aquela exposição foi a possibilidade de trazer o trabalho educativo para junto da curadoria, ou seja, o olhar comum para perto do olhar “especializado”.

    Não há outra possibilidade para a arte do que se deixar disseminar no mundo, tornar-se comum. Sendo de todos e de ninguém ela junta o político, o ético e o estético, ou seja, ela participa da formação do imaginário que é a mola propulsora da invenção de novas possibilidades para o indivíduo e para a sociedade. Visões e (sub)versões deve ser vista como um marco na história das curadorias brasileiras. Fico contente de ter participado, junto com o Vergara e o Italo Campofiorito, da escolha daquelas histórias e suas narrativas poéticas.


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Publicado em 21/07/2015

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