A abertura acontece neste sábado, 02 de março

A exposição Cinco convites a um levante, de Alex Frechette, representa um apelo à mobilização através de cinco pinturas que registram protestos recentes ocorridos no Brasil, Chile e Argentina, experienciados pelo artista. A exposição estará em exibição na Varanda do Museu de Arte Contemporânea de Niterói, com abertura em 2 de março e visitação até 12 de maio.

Cada uma das cinco obras, apresentando dimensões de 5 metros por 1,60, caracterizadas por traços expressionistas, retratam manifestações populares: a falta de energia elétrica em Niterói, após períodos de chuva; o protesto na Cinelândia contra a tentativa de golpe de Estado ocorrida em 8 de janeiro de 2023, em Brasília; uma demonstração de solidariedade à Palestina em Santiago do Chile, país reconhecido por abrigar a maior comunidade palestina fora do Oriente Médio; os apelos por justiça no centro do Rio de Janeiro após o assassinato de uma artista circense e cicloativista venezuelana; as agitações sociais na Argentina após as recentes mudanças econômicas e políticas.

Cinco convites a um levante não se limita apenas a documentar artisticamente esses eventos ativistas recentes; também instiga os espectadores a uma reflexão crítica sobre os discursos políticos e sociais que emergem dessas manifestações, além de explorar as relações entre arte e ativismo.

Entre mísseis, feminicídios, arbitrariedades, tentativas de golpe e cortes de energia elétrica, a exposição incita os espectadores a encararem o presente como um movimento em direção à coletividade, em busca de justiça e também de uma poética que inspirem a ação de um levante -- um levante que vise a radical transformação do mundo.

Alex Frechette, artista visual e doutorando em Artes pela UERJ, vive e trabalha em Niterói-RJ. Seu trabalho engloba desenhos, pinturas, objetos e vídeos, explorando elementos do cotidiano social brasileiro e seus desdobramentos, pulsões e tensões numa busca por discussões sobre história, memória, ativismos e processos poéticos contra-hegemônicos.





O artista, por Lílian do Valle

Alex Frechette é um artista que se interessa pelo cotidiano da cidade.

Não o cotidiano retratado nas fotos dos jornais, cuja fria objetividade parece convocar a indiferença com que nos habituamos a contemplá-las – pois, como nos lembra Susan Sontag, exímia fotógrafa além de ensaísta, "a pessoa pode habituar-se [à violência] da vida real, pode habituar-se [à crueldade] de certas imagens".

Tampouco trata Frechette de um cotidiano romantizado, que busca na estética o conforto que os dias não trazem e que, sem dúvida, tem lugar de honra nas artes contemporâneas – mas que abre, igualmente, uma distância consoladora, ainda que só imaginária, em relação a tudo aquilo que, na vida diária, nos fere, nos angustia, nos revolta, nos emudece. As cinco obras aqui expostas falam de um cotidiano urbano tal como ele se experimenta: como movimento constante, que as páginas dos noticiários e nossas idealizações são incapazes de manifestar, e que levou o artista da Cinelândia para o Chile, do Chile para Niterói e daí de volta para a Cinelândia e, em seguida, para Buenos Aires.

Em Niterói, moradores denunciam a falta de energia elétrica que tem se tornado recorrente nos períodos de chuvas, paralisando a cidade e a vida de seus habitantes; no Rio de Janeiro, a manifestação na Cinelândia revela que o atentado de 8 de janeiro de 2023 não é apenas uma memória, mas uma ferida aberta que não pode ser ocultada; o ato pró-Palestina em Santiago do Chile, cidade que reúne a maior comunidade originária da região fora do mundo árabe, tem a urgência da luta contra as catástrofes humanitárias; no Rio de Janeiro, o grito coletivo é de repúdio ao cruel assassinato de Julieta Hernández – venezuelana, em suas palavras «migrante nômade, bonequeira, palhaça e viajante de bicicleta», a Miss Jujuba que tanto alegrava as crianças por onde passava – ocorrido em dezembro, no Amazonas; em Buenos Aires, um protesto contra o pacote de reformas ultradireitistas do presidente recém-eleito, que se anunciava como primeiro de muitos, reúne grande número de argentinos.

Na cidade, por trás da bela harmonia arquitetônica já desafiada por tudo e todos deixados de lado, para além da circulação dos carros e da violência desordenada do poder, emerge o dissenso: protestos que não cabem nos registros fotográficos nem nas memórias reconciliadoras.

Alex Frechette nos oferece aqui um diário em imagens, suas memórias, que exploram em cores de sensibilidades e texturas sons, imagens, odores, toques, sabores, que criam superfícies mais ou menos delineadas conforme as relações dos corpos, que retratam as lutas e as dores, mas também a alegria do estar-junto – e não é mesmo assim que a cidade é para nós?

Lílian do Valle


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Publicado em 01/03/2024

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