Monólogo teatral reflete a contemporaneidade ao discutir racismo e eugenia, ao mesmo tempo em que celebra os 140 anos de nascimento e centenário de morte do escritor Lima Barreto

No dia 27 de abril, quarta-feira, às 19h, vai acontecer, no Teatro Popular Oscar Niemeyer, o monólogo “Traga-me a cabeça de Lima Barreto!”, da Cia dos Comuns.

Escrita pelo diretor e dramaturgo Luiz Marfuz, em 2017, especialmente para comemorar os 40 anos de carreira do ator Hilton Cobra, com direção de Onisajé (Fernanda Júlia), a peça mostra uma imaginária sessão de autópsia na cabeça do escritor Lima Barreto, conduzida por um Congresso de Eugenistas no Brasil, início do século XX. Após a morte de Lima Barreto, os médicos eugenistas determinam a exumação do corpo, a fim de responder a pergunta: “Como um cérebro, considerado inferior pelos eugenistas da época, poderia ter produzido e publicado obras literárias de qualidade, se a arte nobre e da boa escrita deveria ser um privilégio das raças consideradas superiores?”. A partir desse embate, o espetáculo mostra as várias facetas da personalidade e da genialidade de Lima Barreto, refletindo sobre loucura, racismo e eugenia, a obra não reconhecida e os enfrentamentos políticos e literários de sua época.

Hilton Cobra reconhece a importância de se fazer um tributo a Lima Barreto – um autor tão pisoteado, tão injustiçado, que pensou tão bem esse Brasil, abriu na literatura brasileira ‘a sua pátria estética’, os pisoteados, loucos, os privados de liberdade – esses são os personagens do escritor. “Acredito que ele deve ter sido, se não o primeiro, um dos primeiros autores brasileiros que colocaram esse ‘mundo esquecido’ em qualidade e com importância dentro de uma obra literária”.

“Existe uma urgência em frear a perpetuação das estruturas sociais e raciais no Brasil que insistem em colocar homens e mulheres pretos como cidadãos de segunda classe. Por isso, passados três anos da estreia de “Traga-me a Cabeça de Lima Barreto!”, e diante dos efeitos causados pela pandemia à população negra e pobre, acreditamos que o espetáculo se mantém atual e necessário para refletir e debater racismo, eugenia” explica Cobra.

Esses dois temas foram entrelaçados na dramaturgia construída por Luiz Marfuz que partiu da ideia de se exumar o corpo do escritor para se fazer uma autópsia de sua vida e obra.

Para a diretora Onisajé (Fernanda Júlia), Traga-me a cabeça de Lima Barreto! é uma montagem vitoriosa e que permanece atual no momento da pandemia. Para ela, “as feridas causadas pelo racismo estão escancaradas na violência policial, no genocídio da juventude negra e na quantidade expressiva de pessoas atingidas pela COVID-19. Nesses tempos de esquecimento e invisibilidade, ao rever a obra de Lima Barreto, escrita nas primeiras décadas do século XX, parece que ele acabou de escrevê-la.”

Onisajé faz uma correlação entre o escritor e autor ao dizer que a montagem tanto reaviva a contribuição de um pensador crítico e politizado como Lima Barreto, quanto a resistência e insistência do artista Hilton Cobra de estar em cena reverenciando um ícone negro vítima das agruras do racismo de seu tempo e expondo a eugenia cultural de nossos tempos.





Lima Barreto

Afonso Henriques de Lima Barreto foi o crítico mais agudo da época da República Velha no Brasil, rompendo com o nacionalismo ufanista e pondo a nu a roupagem da República, que manteve os privilégios de famílias aristocráticas e dos militares. Nascido na cidade do Rio de Janeiro, no dia 13 de maio de 1881, sete anos antes da abolição da escravatura, sua vida é recheada de acontecimentos polêmicos, controversos e trágicos.

Em sua obra, de temática social, privilegiou os pobres, os boêmios e os arruinados. Foi severamente criticado por escritores contemporâneos por seu estilo despojado e coloquial, que acabou influenciando os escritores modernistas. Lima queria que a sua literatura fosse militante. Escrever tinha finalidade de criticar o mundo circundante para despertar alternativas renovadoras dos costumes e de práticas que, na sociedade, privilegiavam pessoas e grupos.

Ficha Técnica (Criação):

Hilton Cobra – Ator | Luiz Marfuz – Dramaturgia | Onisajé (Fernanda Júlia) – Direção | Cenário: Vila de Taipa (Erick Saboya, Igor Liberato e Márcio Meireles) | Desenho de Luz: Jorginho de Carvalho e Valmyr Ferreira | Figurino: Biza Vianna | Direção de Movimentos: Zebrinha | Direção Musical: Jarbas Bittencourt |Direção de vídeo: David Aynan | Produção executiva: Lud Picosque e Ruth Almeida | Fotos: Adeloyá Magnoni, Leandro Lima, Kaian Alves, Valmyr Ferreira e Vinicius César | Operador de áudio e vidéo: Duda Fonseca | Operador de luz: Lucas Barbalho | Participações especiais (voz em off): Lázaro Ramos, Caco Monteiro, Frank Menezes, Harildo Deda, Hebe Alves, Rui Manthur e Stephane Bourgade


SERVIÇO:

Espetáculo “Traga-me a cabeça de Lima Barreto!”
Data: 27.04.2022
Horário: 19h
Ingresso solidário: doação de 1kg de alimento não perecível, agasalho ou produto de higiene pessoal. Retirada pela sympla.

Local: Teatro Popular Oscar Niemeyer
Endereço: Rua Jornalista Rogério Coelho Neto, s/n – Centro, Niterói (atrás do Terminal!)








Publicado em 26/04/2022