Muito mais do que um grande ator, João Caetano dos Santos foi um dos mais importantes personagens do Teatro Brasileiro do século XIX. Nossa arte dramática foi decisivamente modificada pela sua atuação nos palcos e como inovador empresário. Com sua esposa, a também atriz Estela Sezefreda, constituiu, aos 25 anos de idade, a primeira Companhia Teatral Brasileira, estreando em Niterói, melhor dizendo, na então Villa Real de Praia Grande, no pequeno teatro da rua da Imperatriz, hoje XV de Novembro, criado pela original Sociedade do Theatrinho.

Considerado o primeiro teórico da arte dramática brasileira, João Caetano dos Santos, mais conhecido apenas como João Caetano, nasceu no Rio de Janeiro, em 27 de janeiro de 1808. Filho do capitão de ordenanças João Caetano dos Santos e de Dona Joaquina Maria Rosa, desde criança frequentava teatros para assistir aos espetáculos que seu irmão, o ator Martinho Vasques, encenava. Militou na qualidade de cadete, tomando parte na Campanha do Sul de 1825 a 1829. Só que o gênio da arte que já então o chamava a descortinar um futuro de glória e de renome, o fez voltar à sua cidade Natal, onde chegou a representar como amador em sociedades particulares, atuando diversas vezes papeis femininos. João Caetano chegou a servir na guerra da Cisplatina.

Mesmo parecendo uma trajetória totalmente distinta da que viria a seguir, se engana quem pensa que a mesma não foi proveitosa para João. Posteriormente, críticos viriam a concordar que a experiência de guerra teria ajudado o artista na montagem de cenas militares, e ao mesmo tempo teria moldado seu caráter, fazendo-o encarar a vida teatral como um campo de batalha, onde se lutava tanto por idéias como por espaço.

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Autodidata da arte dramática, o gênero favorito de João Caetano era a tragédia. Embora também chegasse a representar papéis cômicos, João Caetano especializou-se em papéis dramáticos, encenando peças de dramaturgos europeus, tais como o inglês William Shakespeare e o francês Alexandre Dumas.

A carreira teatral de João Caetano se inicia quando ele estreia como ator profissional, em 24 de abril de 1831, no pequeno teatro da Villa de Itaborahy, na peça "O Carpinteiro da Livônia", que depois foi representada como "Pedro, o Grande". Alguns meses mais tarde, desejoso de aprimorar seu talento, começou a atuar no teatro de São Pedro contratado pela Companhia da atriz portuguesa Ludovina Soares, com o vencimento de 30 contos mensais.

No Theatrinho da Praia Grande, em 1831, trabalhou João Caetano, escripturado no conjunto organizado pelo ator portugues Victor Porfírio de Borja, também membro da Companhia de Ludovina. Desse theatro passou ele para o São Pedro de Alcântara, que pouco depois da partida do primeiro Imperador passou a chamar-se Constitucional Fluminense.

Dois anos depois, em 1833, ocupou o Teatro da Praia Grande e fundou a Companhia Nacional João Caetano, em associação com a bailarina e atriz Estela Sezefreda, com quem se casou em 1845. Essa companhia foi a primeira composta somente por atores brasileiros e a primeira a ter salários fixos. Atualmente, o Theatro Municipal de Niterói, construído no mesmo local do antigo Oraia Grande, é considerado por muitos historiadores o palco do nascimento do teatro brasileiro.

João Caetano interpretando o personagem Oscar, filho de Ossin, da obra de Arnoult. Escultura de Francisco Manuel Chaves Pinheiro, a obra em bronze em tamanho natural, foi fundida em Roma, em 1860, e pesa 800kg. Clique para ampliar
Com a montagem de Antonio José, ou O Poeta e a Inquisição (1838), de Gonçalves de Magalhães, Caetano introduziu temas brasileiros no teatro desenvolvido no país. Sua companhia rompe com a tradição então predominante, totalmente influenciada pela dramaturgia portuguesa, ao encenar autores nacionais. Na companhia, João Caetano exerce as funções de empresário e ensaiador, o nome que se dava ao diretor, além de ator. Com sua trupe, realizou encenações tanto na Corte (Rio de Janeiro) como em várias províncias do Império do Brasil.

Como empresário, em 1842 construiu em Niterói, no mesmo local do antigo Praia Grande, o Theatro Santa Thereza, que administrou, e onde atuou, até sua morte. Nesse período, administrou diversos outros teatros na cidade do Rio de Janeiro, como o teatro na rua do Vallongo, de São Pedro, de São Francisco e São Januário.

O início

Mesmo com toda essa ousadia, o começo de sua carreira não foi fácil. João era um ator que começava num país que também dava os primeiros passos, onde tudo se mostrava virgem, desde o teatro até a nacionalidade. Naquele tempo, as condições do teatro no Brasil eram muito precárias, tanto do ponto de vista do repertório, na maior parte constituído por traduções de gosto, qualidade e fidelidade duvidosos, quanto do ponto de vista da produção. Entretanto, sua companhia rompe com a tradição então predominante, totalmente influenciada pela dramaturgia portuguesa, ao encenar autores nacionais. Como se já não fosse suficiente, a Companhia Nacional João Caetano também revoluciona a representação dramática ao colocar no palco apenas atores brasileiros, algo incomum para a época.

Quando foi inaugurada, em 1891, a estátua ficava em frente à já demolida Academia Imperial de Belas Artes, na Avenida Passos. Em 1916, a escultura foi então transferida para a o Teatro que leva seu nome, na Praça Tiradentes. Clique para ampliar
Além de atuar, publicou dois livros sobre a arte de representar: "Reflexões Dramáticas", de 1837, e "Lições Dramáticas", de 1862. Nesses livros, ele apresenta seu ideário estético do teatro: a substituição dos "vícios declamatórios do estilo lusitano, por um estilo de representar mais simples e verdadeiro".

A partir de 1850, as peças épicas, o drama romântico que formava o repertório de João Caetano, começam a ter que conviver com o teatro realista, mais "refinado" que considerava obsoleto o estilo do velho mestre. Surgem também outros gêneros que se tornam cada vez mais populares como as operetas, o teatro de revista, os vaudevilles, os musicais. Com isso, mesmo tendo o respeito e admiração de muitos, João Caetano passa a sofrer com a falta de renovação e já não conseguia mais atrair público nem as subvenções do governo.

Teatro Municipal de Niterói em 1904, recém batizado João Caetano. Clique para ampliar
Em 1860, depois de visitar o Conservatório Real da França, organiza no Rio de Janeiro uma escola de Arte Dramática, totalmente gratuita. Também promove a criação de um júri dramático, para premiar a produção nacional. Faleceu no Rio de Janeiro, no dia 24 de Agosto de 1863, aos 55 anos de idade. Estava ele no auge de sua fama, sendo unanimamente considerado o maior ator brasileiro da época.

Após sua morte, a antigo Theatro Santa Thereza foi reconstruído sob a liderança do Maestro italiano Felice Tati, passou por sucessivas reformas e, em 1900, a Câmara Municipal o rebatizou Teatro Municipal João Caetano. Com capacidade para 400 pessoas, o prédio foi tombado pelo Instituto Estadual do Patrimônio Cultural em 1990. Após um grande trabalho de restauração, que durou de 1991 a 1995, o teatro foi reinaugurado em 19 de dezembro de 1995 com grande parte das características originais.

João Caetano também empresta seu nome ao antigo Real Teatro de São João, criado em 1813, no então Largo do Rocio, hoje Praça Tiradentes, no Centro do Rio de Janeiro. Em 1824, o teatro foi destruído por um incêndio e reaberto em 1826 com o nome de Imperial Teatro de São Pedro de Alcântara, ou simplesmente Teatro Imperial. Trinta anos depois, em 1856, um novo incêndio atingiu o teatro. Graças ao empenho de João Caetano, ele foi reerguido nove meses depois com uma nova fachada. Em 1891, por um decreto da prefeitura, ele passa a se chamar Teatro João Caetano. Em 1928, o edifício é derrubado e um novo prédio é inaugurado em 1930, mantendo a tradição dos arcos na fachada.

João Caetano e Estela Sezefreda tiveram 4 filhas: Joaquina Maria Rosa (1834-1895), Júlia (1836-1902), Thereza (1840-1904) e Rachel (1842-1872).





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Publicado em 10/06/2013

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