Em 2004, a Prefeitura de Niterói publicou, por meio de sua editora institucional, Niterói Livros, a obra "Às margens plácidas do Rio Calimbá", de Antonio Soares. O livro conta com crônicas de amor aos tradicionais bairros do Cubango e Viçoso Jardim, onde o jornalista, cartunista, compositor e seresteiro Antonio Soares passou a infância.
No entanto, o livro não se perde em reminiscências pessoais, mas apresenta uma reconstituição histórica, quanto poética, desse pequeno pedaço de Niterói, relembrando personagens ilustres, famílias tradicionais, clubes, escolas e dando vida aos nomes das ruas.
Trata-se, portanto, de uma obra que se afina com os objetivos do projeto editorial Niterói Livros, que é manter acesa a memória de nossa cidade, como um dos instrumentos de reafirmação da cidadania.
Apresentação
Era uma vez um menino chamado Antonio. Seus pais, gente modesta e simples, afeita ao trabalho, residiam com os quatro filhos pequenos numa chácara da Estrada Viçoso Jardim, redondezas da venda das mulatas, região semirural do município de Niterói. Cortava a região, um córrego de águas lentas e despretensiosas, ao qual a gente do lugar pespegara hiperbolicamente o nome de Rio Calimbá, circundadas de canteiros de hortaliças e troncos de árvores frondosas, transcorreu a infância de Antonio.
Infância feliz, despreocupada, em sadio ambiente familiar, na melhor tradição luso-brasileira. Animada pelos folguedos infantis da época: bola-de-gude, pião, cafifa, escambiada, entre os meninos; danças de roda, amarelinha, casamento japonês, ao lado das meninas. Entre tantos divertimentos, havia, porém, um favorito: o dos banhos de rio, nas bacias formadas, aqui e ali, pelo Calimbá. Banhos inesquecíveis, de lavar a alma para todo o sempre.
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Dentro de casa, como nos recreios da escola, circulavam os "gibis", as histórias em quadrinhos, com seus heróis, de Flash Gordon ao fantasma voador. E tudo isso, como também os seriados do rádio e do cinema, concorreu para a configuração da personalidade e do caráter de Antonio. "O homem é ele mesmo e sua circunstância", na genial conceituação de Ortega. O menino Antonio cresceu, batalhou por um lugar ao sol, conquistou espaços, à força dos próprios méritos e talentos.
Vitorioso no jornalismo, de repórter a editor chefe; bacharel em direito; redator da rádio globo; apresentador da TV-Excelsior; cartunista habilíssimo, continuador, de Péricles Maranhão nas charges do "Amigo-da-onça", da revista O cruzeiro; compositor e cantor de MPB, seresteiro, poeta e contista laureado, jamais deixou arrefecer, contudo, sua amorosa recordação da meninice. O hoje bacharel Antonio Soares sempre, que convocado pela saudade, costuma pegar pela mão o menino Antonio (o Toninho da infância) e leva-o a passear pelo Vale do Calimbá, ressuscitando instantes ali vividos e acrescentando-lhes as descobertas feitas pelo repórter curioso e arguto, dublê de historiador, para fixá-los em crônicas e registros autobiográficos repletos de poesia.
O livro que o leitor tem em mãos, portanto, pode considerar-se a síntese dessa paixão que Antonio Soares nutre pelas "Às margens plácidas do Rio Calimbá", semelhante àquela paixão que inspirou a Fernando Pessoa, nas "ficções do interlúdio" de Alberto Caeiro, estes versos comoventes: "O Tejo é mais belo que o rio que corre pela minha aldeia, mas o Tejo não é mais belo que o rio que corre pela minha aldeia, porque o Tejo não é rio que corre pela minha aldeia...".
Sávio Soares de Sousa
(das Academias Fluminense e Niteroiense de letras)